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Críticas

AQUAMAN 2: O REINO PERDIDO – A submersão definitiva do DCU cinematográfico | Crítica do Neófito

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Antecipadamente pedindo perdão pelo trocadilho infame, com Aquaman 2: O Reino Perdido, pode-se afirmar, sem constrangimento, que o cinematográfico Universo DC (ou DCU) foi, literalmente, “por água abaixo”!

Cinco anos após o primeiro filme do soberano da Atlântida da DC capaz de conversar com os peixes – um inesperado sucesso dentro da confusão que a proposta inicial de Jack Snyder para os heróis da DC havia se tornado – surge esta continuação, contando com a quase totalidade dos atores da empreitada anterior e o mesmo diretor (James Wan), além da promessa de encerrar, com chave de ouro, o antigo projeto de filmes de super-heróis da casa de Superman, Batman e Cia.

O que não se poderia esperar é que, neste caso, as profundezas oceânicas poderiam enferrujar até mesmo o “ouro” da chave de encerramento da antiga fase do DCU, antes da estreia dos filmes da reformulação a cargo de James Gunn.

Aquaman 2: O Reino Perdido é, como parte do título diz, algo realmente “perdido” dentro do que antes havia sido feito. O primeiro frame do filme parecia promissor, com uma cena violenta, num enorme navio em meio ao oceano numa tempestade noturna, saqueado por piratas modernos. Mas o impacto positivo não dura nem 30 segundos, subitamente alterado para uma cena de humor pastelão, que, em verdade, vai caracterizar todo o restante do filme. Nesta continuação, o Aquaman de Jason Momoa perde toda a densidade da primeira produção, tornando-se um piadista questionável, careteiro e quase irresponsável, graças à sua arrogância e postura negligente.

Indubitavelmente, James Wan tem senso de ritmo e sabe manter tudo em movimento o tempo todo, enfileirando uma cena de ação após a outra, sem deixar a peteca cair na intenção de entreter. Além disso, ele conhece bem os personagens que tem nas mãos, haja vista tê-los introduzido no longa de 2018; dessa forma, o diretor se vê livre para, sem enrolação, entrar logo na trama do roteiro, entregando breves cenas de respiro, introdutórias das muitas batalhas, lutas, perseguições e explosões que povoam a tela do cinema pelas duas horas de duração da produção. O cineasta também opta por uma fotografia um pouco mais escura do que o longa anterior, pela tecnologia IMAX e por um 3D bem modesto (talvez para conferir um plus a mais à fragilidade do filme).

Há batalhas dentro do mar, no deserto, numa ilha tropical salpicada de insetos gigantes (?!?!), na geleira da Antártica, dentro de um vulcão… ou seja, não dá para reclamar que o filme não seja movimentado, mostrando, em live action, tudo o que os fãs de super-heróis gostam: muita porrada! E, novamente, desculpem este colunista pela falta de sutileza nas palavras.

Todavia, o fato de o ritmo ser bom, não significa que o roteiro, em si, seja bom; ou que a história seja boa; ou que o filme, no conjunto, seja satisfatório.

Cada vez mais, os filmes em live action de super-heróis se parecem mais com os desenhos animados baseados neles ou, pior ainda, com as próprias histórias em quadrinhos que os inspiraram.

O problema é que, após a era áurea de popularização das HQ’s, dos anos 1980 a meados da década de 2000, claramente ocorreu uma decadência no público consumidor, uma vez que a as histórias (domésticas ou em grandes sagas) passaram a se repetir descaradaemente, e a inverossimilhança e caráter estanque dos personagens começaram a soar anacrônicos demais para os antigos leitores fiéis (exceção aos nerds patológicos e/ou portadores da Síndrome de Peter Pan), os quais passaram não apenas pelo avanço da idade, mas por mudanças significativas na vida. Em compensação, por exemplo, nas páginas dos quadrinhos, Peter Parker continuava eternamente um jovem brilhante a tomar péssimas decisões, permanecendo pobretão e endividado, apegado de forma obsessiva à tia que o criou, a ponto de abrir mão de sua mulher para que uma senhora de mais de 70 ou 80 anos continuasse a viver, por meio de um pacto com o diabo!!! Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e grande burrice, também!

Superman permanece sendo um “escoteirão”, dotado de poderes quase divinos, mas mais preocupado em combater bandidos que ameaçam os EUA do que intervir de fato na questão da paz mundial. Batman também prefere usar seus bilhões de dólares para ficar socando e prendendo loucos sociopatas num asilo inquestionavelmente incapaz de evitar que fujam, ao invés de usar sua riqueza e influência para enfrentar questões estruturais causadoras do crime em sua amada Gotham City. Ou seja, os heróis perderam contato com a realidade. Vê-los em carne e osso – como ocorreu nas três primeiras fases do MCU – era oportunidade de torna-los mais realistas, conectados com problemas sociais concretos (pobreza, desigualdades, racismo, machismo etc.), por mais que o caráter fantástico de homens que se transformam em monstros verdes superfortes, que se fantasiam de morcego para exercer o vigilantismo, colã vermelho para correr mais que a velocidade da luz, ou deuses nórdicos andando no meio de nós seja, por si só, algo escandalosamente ficcional e fantasioso.

O que leva ao questionamento de por que investir em live action em filmes de super-heróis, se o tratamento dado a eles será exatamente igual ao que já se vê em animações ou quadrinhos? O diferencial dos últimos filmes da Saga das Joias do Infinito do MCU está, justamente, no caráter de definitividade que a história carrega, matando personagens de forma irreversível, criando uma situação global complexa (o sumiço e o retorno de metade da população viva do planeta num hiato de 5 anos). Todavia, na continuidade dos filmes, todo impacto mundial que um evento cataclísmico como este (ou o surgimento da gigantesca mão de um Celestial no meio do oceano) se perdeu, como se nada disso tivesse o potencial de causar um impacto descomunal na governança planetária.

No DCU, Snyder, a princípio, tentou conferir um caráter mais melancólico ao Superman; uma indiferença superior à Mulher-Maravilha; e traços fascistas ao Batman; mas sua proposta não pegou, por excesso de estilo e mania de controle (e limitação artística também). As histórias, por mais “sombrias” que fossem, em termos de ambientação e direcionamento, continuavam muito similares às animações da DC, trazendo os méritos e deméritos dessa abordagem.

Foto: Divulgação (“a volta dos que não foram”)

Votando a Aquaman 2, rapidamente, a trama envolve uma nova ameaça ao reino subaquático da Atlântida, aparentemente conduzida pelo Arraia Negra (mais uma vez a cargo de Yahya Abdul-Mateen II), mas que, de tão grande (extensível ao mundo da superfície), obriga Aquaman a se unir ao seu irmão e rival Orm (novamente na pele de Patrick Wilson, o melhor em tela). Na verdade, o arqui-inimigo humano do herói está em conluio com uma entidade antiga da Atlântida – oriundo do tal “Reino Perdido” – totalmente determinada a destruir o mundo por meio de um aquecimento global superacelerado.

Amber Heard, como Mera, mesmo em papel reduzido e claramente coadjuvante, está de volta; bem como Nicole Kidman (mãe do Aquaman e Orm), Temuera Morrison (pai do Aquaman) e Dolph Lundgren (Rei Nereus). Quem não retornou foi William Dafoe (Vulko) – defenestrado da trama pela genérica justificativa de que pereceu por uma epidemia não esclarecida e não desenvolvida –; e quem foi introduzido foi Randall Park, no papel do cientista Stephen Shin (quase como “alívio cômico”). Contudo, toda a trama gira mesmo em torno da dinâmica entre os dois irmãos, Aquaman e Orm, centrados em salvar a Atlântida e o mundo da superfície. O resto é mera “encheção de linguiça”. Nada é realmente ameaçador e o roteiro é impressionantemente previsível.

Aquaman 2, por isso, é um grande desenho animado com atores de carne e osso, convertendo-se numa salada de referências, refilmagens, estilos, intenções e propostas que, no meio de muita ação, pretendia ficar imperceptível, mas é difícil não notar a falta de originalidade e até de certo desânimo na elaboração de um roteiro consciente de que serviria tão somente para colocar os pregos na tampa do caixão da antiga ideia acerca do DCU.

Pode-se dizer, para resumir – e quem assistir entenderá perfeitamente – que Aquaman 2 é uma mistura de Velozes e Furiosos (na sua obsessão pelo tema “família”), Pantera Negra 1, e Homem de Ferro 1, com mais galhofa e menos profundidade. Apesar de flertar com o tema do aquecimento global e até mesmo do problema da governabilidade de líderes bem-intencionados frente às forças democráticas oposicionistas (seria um aceno ao autoritarismo?), Aquaman 2: O Reino Perdido é uma despedida aguada e melancólica para o DCU.

Que James Gunn, como o atual todo-poderoso do novo DCU, consiga trazer alguma revitalização a este gênero de filmes de super-heróis – tão recente e já com sinais de desgaste – pois, até mesmo quem sempre curtiu esse universo magnífico de fantasia tem dado mostras de certo enfado por tanta repetição e falta de inspiração.

Até a próxima, tripulantes (e não se esqueçam dos escafandros para ver Aquaman 2!).

Foto: Divulgação (“essa família é muito unida”…)

P.S.: a única cena pós-crédito, em seguida aos créditos iniciais, é totalmente dispensável, escatológica e simbólica do fim do DCU


Nota: 2 / 5 (fraco)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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