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Críticas

CÓDIGO 8: RENEGADOS | Crítica do Neófito

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De vez em quando, filmes com baixíssimo orçamento se tornam sucessos surpreendentes.

Hallowen (1978), A Morte do Demônio (1981, que revelou Sam Raimi), El Mariachi (1992, que apresentou Robert Rodrigues para o mundo), Bruxa de Blair (1999), Atividade Paranormal (2009), entre muitos outros, são alguns poucos exemplos desses azarões que, de uma hora para a outra, estouram nas bilheterias obrigando à poderosa Hollywood a se curvar diante de sua inexplicável repercussão.

(rezam as lendas hollywoodianas que, para fazer os travellings de seu Mariachi, Robert Rodrigues se utilizou de câmeras amarradas com fita adesiva em cadeiras de escritório e que Sam Raimi aceitou ser cobaia de um remédio experimental para conseguir o dinheiro suficiente para realizar o seu Evil Dead)

Os próprios Steven Spielberg e George Lucas despontaram para o mundo cinematográfico com obras modestas que, por sua vez, tornaram-se filmes icônicos: Encurralado (1971) e Loucuras de Verão (1973) custaram, respectivamente, 450 e 780 mil dólares cada, mas arrecadaram muito mais do que isso e deram o pontapé inicial para as multimilionárias carreiras desses diretores. Para a época, esse orçamento até que não era uma ninharia, mas nada comparado aos 175 milhões de O Jogador Número 1, ou os 275 milhões para a realização de Ascensão Skywalker, convenhamos.

 Foto: Divulgação

A única opção para esses filmes eram ser exibidos  em modestíssimas quantidades de salas de cinema e conseguirem, apesar dos pesares, cair na boca do povo.

Atualmente, o Youtube e canais de streaming, sempre sedentos por um catálogo maior e mais variado, tornaram-se outro veículo através do qual filmes de baixo orçamento sem caráter indie e de cunho explicitamente comercial podem encontrar o caminho para o sucesso. O orçamento para tais produções também pode advir de campanhas de arrecadação diretamente da internet, de modo a tornar a obra totalmente independente de grandes estúdios.

É exatamente esse o caso de Código 8: Renegados, que estreou dia 11 de abril no Netflix: um filme antes oriundo de um curta metragem exibido em 2016 exclusivamente no Youtube (veja aqui) e produzido com aproximadamente 2 milhões e meio de dólares arrecadados de doações (o orçamento inicial era de míseros 200 mil, mas a campanha proporcionou mais de dez vezes a meta inicial).

Há alguns fatores para que Código 8 ganhasse vida: o principal é que ele é estrelado pelos primos na vida real, Stephen Amell (o Arqueiro Verde das produções da CW) e Robbie Amell (o Nuclear, da série Flash), os quais, obviamente, têm apelo junto ao público pop-nerd. Unidos ao diretor estreante em longas, Jeff Chan, e sem contar com mais nenhum ator de peso, o grupo de amigos – como eles mesmos se definem – investiu numa produção em torno de uma história fantástica envolvendo superpoderes – universo bem conhecido dos primos – mas num tom mais realista do que as produções infantiloides da CW, inclusive com uma pequena dose de violência gráfica e discreta nudez.

Foto: Divulgação (Robbie e Stephen Amell; no detalhe, Jeff Chan)

A história busca inspiração óbvia em X-Men, ao retratar um mundo no qual algo em torno de 5% da população nasce com superpoderes variados que, por um bom tempo, era utilizada como mão de obra especializada, até o desenvolvimento da tecnologia e sua consequente substituição, marginalização e discriminação.

Os “com poderes” lembram o processo de abolição da escravidão e da discriminação racial em geral: temidos pelas pessoas comuns e vigiados (até perseguidos) pelo Estado, não têm opção a não ser viverem em guetos, vivendo de subempregos e temendo que, a qualquer manifestação de suas habilidades especiais, possam ser abordados por policiais robóticos programados para matar, que ficam sobrevoando as cidades em enormes drones supertecnológicos da polícia à espera de alguma infração destes.

Foto: Divulgação

Mas apesar das inferências sociais acima apontadas, o filme – de pouco mais de 1 hora e meia de duração – não está focado em provocar reflexões ou de claramente criticar as desigualdades sociais, como outra de suas explícitas inspirações, o filme de 2009 dirigido por Neill Blomkamp, Distrito 9. Código 8 quer ser um filme de ficção científica e ação bem feitinho, entretendo e divertindo o público que por anos veio acompanhando as aventuras mais juvenis dos atores principais no universo televisivo da DC, em uma aventura um pouco mais sombria (há muitas mortes no filme), e na qual os protagonistas são anti-heróis quase inclinados para a vilania.

Desse modo, temos Stephen Amell fazendo o papel do ladrão, traficante e telecinético Garrett Kelton, que recruta Connor Reed (personagem de Robbie Amell) – um elétrico nível 5, desesperado para conseguir dinheiro para o tratamento do câncer terminal de sua mãe, Mary (Kari Matchett) – para realizar uma série de roubos para Marcus Suttcliffe (Greg Bryk), traficante de Psyke (uma nova droga fabricada a partir do líquido espinhal dos com poderes), envolto em dívidas com o cartel.

Connor aceita o trabalho, a princípio, pelos motivos acima, mas acaba no meio de uma violenta guerra de gangues e disputa por poder, que envolve uma série de seres superpoderosos, como uma assassina transmorfa (Mística?), um capanga de pele impenetrável (Luke Cage?), um mudo com superforça, uma mulher com mão de maçarico, uma curandeira, um telepata etc. E, uma vez no meio do salão, só resta a ele dançar conforme a música, caminhando no limite de sua corrupção moral.

Para temperar tudo, os policiais Davis e Park (respectivamente, Aaron Abrams e Sung Kang) estão implacavelmente na cola dos protagonistas, às vezes dispostos a manobras menos éticas para poderem combater o tráfico de Psyke e prenderem (ou matarem) os com poderes.

Foto: Divulgação

A trama, então, mistura elementos de sci-fi e de filme policial, apresentando bons (limitados) efeitos especiais para o baixo orçamento disponível para um filme dessa magnitude e uma ambientação bacana.

As interpretações são bastante caricatas: Robbie Amell, por exemplo, tem duas expressões básicas: raiva e zangado! Stephen Amell é muito bonito. E só! O vilão Suttcliffe vivido por Greg Bryk até consegue despertar certo asco nos telespectadores, mas é tão como tantos inúmeros outros vilões arquetípicos que nem dá para ressaltar algo da composição do ator. Kyla Kane tenta conferir um pouco de profundidade à sua atormentada Nia, mas não parece ter muito com o que trabalhar, além de algumas caretas e tentativa de se mostrar numa viagem de Psyke. O único destaque (com “d” bem minúsculo) é para a Mary Reed de Kari Matchett, que consegue transmitir alguma tridimensionalidade a sua sofrida personagem.

Foto: Divulgação

O roteiro é fraquinho que dói! Clichezado ao limite, e sem muito o que explorar, vai sempre no feijão com arroz para não correr riscos, cometendo alguns deslizes aqui e ali, mas – e pelas pretensões da produção – o resultado final não é dos piores.

De modo que, se você quer um filme para divertir e passar o tempo; gosta de tramas envolvendo poderes especiais; é fã e gostaria de ver Stephen Amell num papel diferente (mas nem tanto), Código 8: Renegados pode ser uma excelente pedida para um fim de tarde monótono.

Se você busca algo mais reflexivo ou crítico, passe longe!!!

PS.: já foi anunciado que o canal de streaming Quibi vai produzir uma série derivada de Código 8, que vai contar com o roteirista original do curta de 2016 e do filme de 2019/2020, Chris Paré, o diretor Jeff Chan e, muito provavelmente, Robbie Amell.

Foto: Divulgação

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Nota: 3 / 5 (bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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