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Críticas

WESTWORLD S03E05 | Crítica do Neófito

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 ALERTA DE SPOILER!!!!!!

(Este texto poderá abordar alguns elementos da trama)

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Dois renomados filósofos modernos – que, aliás, hoje são combatidos por ideologias e teorias conspiratórias sobre um suposto “marxismo cultural” (desconfia-se que em razão de um desconhecimento mais acurado de suas teorias) – Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), os quais integraram o grupo de fundadores da chamada Escola de Frankfurt, escreveram, nos fins dos anos 1940, sobre a “comunicação de massa”. Até hoje suas teses servem de base do estudo universitário nas áreas da Comunicação e do Jornalismo.

Foto: Divulgação

Num resumo grosseiro de suas análises, os referidos autores discorreram sobre como programas de tv, rádio e cinema passaram a ser produzidos como bens de consumo e não mais como obras artísticas. Isso ocorreria porque tal produção serviria aos interesses de grandes corporações – estúdios cinematográficos, canais de televisão, conglomerados de comunicação etc. – todas voltadas para o lucro, dentro do sistema capitalista (decorre daí – crítica ao Capitalismo – parte da condenação acrítica sobre suas teses).

Ainda que não se goste de Horkheimer e Adorno, o fato é que é difícil discordar deles quando assistimos a séries como La Casa de Papel, Game Of Thrones, Lost, Westworld, Stranger Things e afins.

As pretensões artísticas iniciais, nascidas da inspiração dos seus autores, aos poucos vão se diluindo a serviço do lucro que possam gerar. E, aqui, não está sendo feita uma crítica ao lucro. Apenas apresenta-se uma reflexão até que ponto a necessidade de gerar dinheiro subverte o caráter artístico da obra. Nesse sentido, é preciso reconhecer que Hollywood certamente é o mais bem sucedido empreendimento no ramo do entretenimento a tentar achar uma intercessão entre o artístico e o comercial. A curta duração dos filmes – numa média de 2 horas – permite um maior controle desses aspectos, mesmo em empreitadas mais ousadas, como foi o recente caso do Universo Marvel, que criou 23 filmes independentes e ao mesmo tempo interligados em 10 anos. A Warner tentou o mesmo com o Universo DC, com resultados muito diferentes.

No entanto, na televisão – caracterizada pela continuidade e longevidade de seus produtos (novelas, séries, programas diários etc.) – esse amálgama entre comercial e artístico é bem mais complicado. Na década de 1990, a novela global Vamp foi um estrondoso sucesso no horário das 19 horas. Em razão disso, a novela teve dois finais: aquele originalmente pensado pelos autores, apoteótico e grandioso e um outro bastante pífio, exigido pela emissora para esticar por mais algumas semanas sua galinha dos ovos de ouro. Mais recentemente  Lost é um claro exemplo de uma excepcional e instigante premissa que, em nome de gerar mais dividendos para seus produtores, foi esticada para muito além do fôlego que possuía, perdendo-se num mar de tramas, que nem de longe foram bem concluídas. E os exemplos podem se multiplicar à exaustão.

Foto: Divulgação

Westworld – desde 2016 uma bem sucedida série de tv da HBO – é inspirada num filme de 1973, do qual se originou outro filme (Futureworld, 1976) e uma série televisiva antiga (Beyond Westworld, 1980). Tudo isso em razão da excelente premissa: androides de aparência e comportamento humanos usados para sádicos entretenimento de homens endinheirados adquirem consciência e promovem uma revolução das máquinas.

 Foto: Divulgação

Deve-se reconhecer que a HBO acertou em cheio ao reciclar Westworld para os tempos modernos, agora com a utilização de recursos tecnológicos e cinematográficos atuais, recrutando um time de atores invejáveis, não economizando na produção (cenografia, figurino, efeitos especiais etc.), mantendo uma temática adulta e não subestimando a inteligência de seu público por meio de uma trama complexa.

As duas primeiras temporadas foram um primor, por mais que um bom número de pessoas tenha torcido o nariz para a complexidade da 2ª temporada e seus variados núcleos narrativos e linhas temporais simultâneas, verdadeiro quebra-cabeça para muitos telespectadores, a série se destacou como um produto altamente sofisticado e, sim, artístico.

A terceira temporada, desse modo, foi anunciada em meio a imensa expectativa. O núcleo da história se expandiria dos limites dos parques temáticos para o mundo dos humanos, abrindo novos e criativos caminhos.

A primeira metade do terceiro ano foi assistida com muito boa vontade, sendo admirável a qualidade da produção. Todavia, ao se chegar nos três episódios finais, percebe-se um certo gosto amargo na boca, de que os autores, apesar de todo talento criativo e cuidado, não sabiam muito bem como conduzir a história para além das fronteiras iniciais. Falta alguma coisa. E não é por causa da linearidade narrativa adotada. Aquela mistura de cenário de velho oeste ou Japão feudal e tecnologia tinha um encanto e apelo que falta ao mundo indefinido que encontramos fora do parque da Delos.

A filosófica busca pela imortalidade humana cede lugar aos sonhos megalomaníacos de controle mundial de um homem – Serac (Vicente Cassel) – repleto de motivações contraditórias e clichês: construir um mundo melhor, salvando o homem de si mesmo por meio de seu controle.

 Foto: Divulgação

O enredo deste 5º episódio, aliás, parece copiar a trama do filme O Pagamento (2003, direção de John Woo, estrelado por Ben Affleck, Uma Thurman e Aaron Eckart) e sua conclusão de que prever o futuro causaria a destruição da humanidade. Dolores (Evan Rachel Wood) cada vez mais parece uma subversiva anarquista disposta a provocar o caos pelo caos, sem nenhum objetivo mais definido (lembram-se do Coringa de Batman: Cavaleiro das Trevas, de 2008, e, não por acaso, dirigido por Christopher Nolan, irmão do showrunner de Westworld, Jonathan Nolan?).

O papel de Bernard (Jeffrey Wright) na história até agora é totalmente secundário, envolto num mistério indefinido e vazio. William (Ed Harris), um dos mais interessantes personagens dos dois primeiros anos – e que vai dar algum trabalho a partir do próximo episódio, haja vista o trailer – dá mostras de estar sendo subaproveitado e só permanecendo na trama em função do protagonismo do personagem desde o filme de 1973. Esperemos que Nolan e sua esposa Lisa Joy saibam tirar algum coelho dessa cartola.

Maeve (Thandie Newton) sumiu novamente, bem como Charlotte Hale (Tessa “lindos lábios” Thompson).

Foto: Divulgação

De positivo, esse 5º episódio apresentou, além do cuidado cenográfico e fotográfico de sempre, uma dose de humor pouco característica na série: a viagem lisérgica de Caleb (Aaron Paul), involuntariamente drogado pela substância Genre (Gênero), que dá nome ao episódio, ao som de a Cavalgada das Valquírias de Wagner e o Theme From Love Story (do drama de enorme sucesso de 1970), em meio a uma dramática perseguição é hilária, mesmo não que não tenha por objetivo provocar gargalhadas do público (e, cada vez mais, Caleb se assemelha ao Teddy vivido por James Marsden nos dois primeiros anos: seria uma falha de Dolores precisar de um apoio masculino subserviente? Como humano, Caleb se submeterá a todos os caprichos dela?). A explicação do alcance do supercomputador Rehoboam também é interessante, tendo muito a ver com a realidade anunciada por pensadores modernos contemporâneos, tais como Yuval Noah Harari e suas especulações futurológicas sobre o sistema de controle que governos e grandes corporações poderão ter sobre o ser humano daqui a pouco tempo, graças à evolução da Inteligência Artificial e da interconectividade cada vez maior que todos teremos.

Foto: Divulgação

Já o desenvolvimento e revelação acerca do passado do vilão Serac (com direito a uma cena emulada de Gladiador, 2000), como já ressaltado na crítica do episódio anterior, não o tornam mais simpático ou complexo (como era o Ford interpretado pelo grande Sir Anthony Hopkins, nas duas temporadas anteriores). Muito antes pelo contrário.

Foto: Divulgação

De modo que o produto Westworld continua belíssimo e embrulhado em um rico papel de seda. Mas grande parte de seu conteúdo e diferencial parece ter se perdido.

Caminhando para o final da temporada, espera-se que os realizadores tenham a coragem de finalizar a história enquanto ela ainda mantém a dignidade e algo de seu componente artístico e/ou caso não tenham uma boa história para continuar contando (algo que perigosamente também se aplica a La Casa de Papel).

Mas muito provavelmente, se a série continuar enchendo os cofres da emissora, pode ser que os anfitriões ganhem uma questionável sobrevida em tramas cada vez mais comuns e previsíveis.

Foto: Divulgação

P.S.: há uma boa surpresa para os brasileiros neste episódio: uma das cenas se passa no Brasil, falada em Português e de forte conotação política!

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Nota: 3 / 5 (bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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