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STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Nepenthe”

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Sempre gosto de dizer que Jornada nas Estrelas nunca foi sobre naves e o espaço, sempre foi sobre as pessoas e todo o potencial que poderíamos alcançar se deixássemos tudo de ruim para trás. De fato, essa utopia tão gritante (e tão necessária nos dias de hoje) faz com que a série tenha uma certa carga dramática. Na Série Clássica, temos exemplos de episódios que são cheios de drama, como quando morre um tripulante horas depois dele se casar no episódio O Equilíbrio do Terror (The Balance of Terror, primeira temporada), só para nos mostrar os horrores da guerra. Também quando Spock arrisca sua carreira para levar o capitão Pike de volta ao planeta Talos IV em Corte Marcial (Martial Court, também na primeira temporada).

Em A Nova Geração, há uma série de episódios carregados com carga dramática, como A Essência do Mal (The Skin of Evil, primeira temporada) com a morte de Tasha Yar, A Medida de um Homem (The Measure Of A Man, segunda temporada), quando a razão de existir de Data é posta à prova. Eu poderia citar muitos outros, como Eu, Borg (I, Borg) e A Luz Interior (The Inner Light) ambos da quinta temporada.

E não podemos nos esquecer dos filmes. O que dizer da emblemática e inesquecível morte de Spock em Jornada nas Estrelas II – A Ira de Khan (Star Trek II: The Wrath of Khan)? A destruição da Enterprise no filme imediatamente seguinte, Jornada nas Estrelas III: A Busca por Spock (Star Trek III: The Search for Spock)? Uma sequência de filmes dramáticos da franquia jamais seria completa sem Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato, onde o capitão Picard se torna um Ahab de sua época, levando sua luta contra os borgs para o lado pessoal. Acho que drama é um tema tão central em Jornada nas Estrelas que daria pra fazer uma matéria só sobre este assunto.

A morte de Spock em Jornada nas Estrelas II. Paramount Pictures.

Para assistir a este episódio (e consequentemente ler este texto), você vai precisar respirar muito, muito fundo.

ATENÇÃO TRIPULAÇÃO: ATIVAR ALERTA DE SPOILERS!

Esta é uma crítica baseada no enredo do episódio, portanto ele tem muitos detalhes da trama que podem estragar a surpresa caso não tenha visto ainda.

Elo mental vulcano. CBS All Access.

O flashback do episódio nos leva a três semanas atrás, quando a Comodoro Oh se encontra com a Dra. Agnes Jurati. É a mesma cena de Okinawa que vimos no terceiro episódio, O Fim é o Principio (The End Is The Beginning). A diferença é que nos demoramos mais nela, sabendo o que se passou entre as duas. Oh parte para uma abordagem mais direta (e não menos subjetiva e secreta) e utiliza-se de um elo mental. O elo mental vulcano foi visto pela primeira vez em A Adaga da Mente (Dagger Mind, primeira temporada da Série Clássica). Aqui, com imagens recicladas de Star Trek: Discovery, a Comodoro Oh demonstra o quão ruim será o futuro para todos se ninguém tentar impedir os sintéticos. É criada uma explicação, mas não uma justificativa exatamente. Ainda não consigo entender o que a Dra Agnes viu que poderia fazê-la matar Maddox ou enterrar sua carreira promissora nessa missão maluca. Resta-me crer que o elo fora muito mais forte que o exibido na tela, deixando a comodoro muito mais convincente. Questionada sobre como proceder, Comodoro Oh faz com que a doutora engula um rastreador pra ajudar na missão.

De volta ao espaço, La Sirena está com dificuldades pra deixar o Artefato. Os romulanos os prenderam em um raio trator do cubo, exatamente como os borgs fizeram com a Enterprise-D em O Melhor de Dois Mundos (The Best of Both Worlds, terceira temporada de A Nova Geração). Narissa arrasta Hugh e recolhe um grupo de ex-borgs, para o forçar a falar para onde Soji foi. Narissa diz que não pode matá-lo, por que ele é da Federação e é protegido pelo tratado. Mas diante da recusa do diretor, ela acaba com os antigos assimilados, matando-os na frente de Hugh. A cena é bem pesada, e Jonathan Del Arco tem uma interpretação tão forte ao ajoelhar-se e chorar que a sensação que dá é que ali morreu um ente querido. De fato, é assim que Hugh se sente. Não é um trabalho de uma vida, são vidas que davam sentido a um trabalho. Elnor aparece e salva Hugh, levando-o para longe.

Hugh e Narissa. CBS All Access.

Depois desta revelação, voamos direto pra Nepenthe, onde Picard e Soji desembarcam depois de utilizarem o trajetor espacial. Alguns passos no planeta e eles são surpreendidos por uma garota armada de arco e flecha. Picard diz que ela deve mirar em sua cabeça, uma vez que seu coração é de duratânio sólido. Sim, ele é portador de um coração artificial. A primeira vez que ficamos sabendo disso, o almirante, na época ainda capitão, ia ser operado para substituir o modelo do aparelho por um mais novo, no episódio Bom Samaritano (Samaritan Snare, segunda temporada de A Nova Geração). No entanto, a história do motivo por trás de seu uso é revelada apenas no episódio Trama (Tapestry, sexta temporada). Por fim, temos um breve vislumbre de sua história novamente no ultimo episódio de A Nova Geração, E Todas as Boas Coisas… (All The Good Things, sétima temporada). Picard chama a garota de Kestra e pede que ela os levem para seus pais.

Kestra.

Kestra é filha de Willian Riker e Deanna Troi. A garota, interpretada por Lulu Wilson, é um ponto magnífico deste episódio, nutrindo uma admiração tremenda por Soji quando descobre que ela é “filha” de Data. É ela que revela à Soji que pode ser um andróide, fato que Picard vinha ocultando pra contar em um momento melhor. A situação fica tensa, mas é a aparição de Deanna Troi (Marina Sirtis, fabulosa nesse episódio) que segura a situação para que ela não se despedace. E Will Riker (Jonathan Frakes, desta vez na frente das câmeras) revê o almirante com ternura e cuidado, mas sai do seu papel de amigo para viver mais uma vez o Imediato que amamos ao gritar “Ativar escudos!” para sua casa inteligente.

Lá no espaço, Narek se prepara para partir em uma nave batedora, com a intenção de seguir La Sirena. A nave é chamada por Rios de “cabeça de cobra“. Uma nave romulana do tipo batedora aparece pela primeira vez no episódio O Desertor (The Defector, terceira temporada de A Nova Geração). Quando Narek detecta o rastreador da Dra Agnes, Narissa libera o raio trator para que o La Sirena parta, levando Narek em seu encalço. A Dra Agnes Juratti parece nervosa e não parece querer ir para Nepenthe. Diante de um nervosismo inexplicável, Raffi se dispõe a ajudá-la enquanto Rios leva a nave para longe.

De volta ao planeta Nepenthe, ficamos sabendo que Troi e Riker tiveram outro filho antes da Kestra, chamado Taddeus – Tad – que havia nascido e sido criado em uma nave estelar (provavelmente Titan, a nave que Riker foi designado para capitanear em Jornada nas Estrelas: Nêmesis). Sua inteligência extraordinária lhe permitiu criar 11 idiomas diferentes. Tad foi vítima de uma doença simples, de um vírus a base de silício, cuja cura poderia ser feita se existissem matrizes positrônicas ativas para tal. Porém o banimento dos sintéticos impediu que existissem matrizes positrônicas ativas, condenando o garoto. Esta é a razão pela qual a família toda se mudou para Nepenthe – um planeta cujo solo possui características regenerativas.

Tad. CBS All Access

Kestra é um show à parte. Ela é curiosa, extrovertida e está muito animada em conhecer a suposta filha de Data, de quem seus pais falam tanto. Soji vem pra preencher o espaço de uma irmã mais velha que ela já não tem mais. Melhor, uma irmã com super poderes. Uma irmã que tem problemas e precisa de ajuda. De fato, Soji não sabe em quem confiar. A situação não é só nova – é ameaçadora. Nada impede que tudo à volta dela – as pessoas, a atenção, o carinho, não seja um novo embuste. E Picard não consegue lidar com isso com o cuidado necessário. É Deanna Troi, numa interpretação belíssima de Marina Sirtis, que encarna novamente a conselheira da nave e ensina a Picard o que ele precisa fazer. Quem ele precisa ser. Não é só um sermão. É uma delicadeza de quem cuida e orienta. Sem dúvida, é o papel da conselheira nunca antes visto por esta ótica na A Nova Geração.

Token de SOS. CBS All Access.

Já no Cubo Borg conhecido como Artefato, o personagem mais inútil da série – Elnor – foge com Hugh em direção à câmara da Rainha. O que me deixa a pergunta: Eles já não estavam lá, no episódio passado? Será que Narissa os arrastou tão longe assim para serem interrogados? Hugh pretende ativar o dispositivo de segurança e deixar o cubo para os ex-borgs, como deveria ter sido desde o princípio, segundo ele. Narissa consegue interceptá-los, dizendo que estavam sendo rastreados e que a declaração de Hugh pode ser considerada uma quebra do tratado, dando autorização à ela para matá-lo. Elnor entra na luta e consegue ser mais rápido que os tiros dos disruptores, matando todos os capangas da romulana. Mesmo assim ela consegue ferir Hugh mortalmente. Antes de partir, o ex-borg diz que apenas um ex-borg pode ativar o dispositivo na câmara da Rainha. Narissa foge por teletransporte e todos os romulanos começam a caçar Elnor. Por uma facilidade horrenda de roteiro, ele termina no escritório de Hugh, onde havia um token de SOS para os Rangers de Fenris, que ele ativa imediatamente.

Narek rastreando. Fonte: Trek Core.

Apesar dos esforços de Rios em despistar Narek, o romulano continua na cola de La Sirena. Raffi e Agnes estão conversando no refeitório e a doutora põe pra fora (literal e metaforicamente) toda sua ansiedade. Raffi a leva para a enfermaria e vai ajudar Rios. A Dra Agnes sintetiza um hipospray com uma neurotoxina a base de urânio. Relutante, ela injeta em si mesmo e convulsiona. É o suficiente para que entre em coma, mas destrua o rastreador que guiava Narek, deixando o romulano no escuro. Já em Nepenthe, Picard usa o conselho de Deanna Troi e transforma a mesa de jantar na sala de reuniões da Enterprise. Com cuidado, ele conquista um pouco da confiança de Soji e com a ajuda de Kestra e seu amigo misterioso, o capitão Crandall, descobrem qual o provável planeta de Soji...

Nepenthe termina com um gostinho de quero mais e, infelizmente, esse também é seu maior ponto fraco. As atuações são maravilhosas, o cenário tem uma fotografia fantástica, mas a força do episódio vem unicamente da nostalgia. A história avança pouco, embora desta vez em pontos bastante essenciais. Ainda não entendi o propósito de Elnor, me parece que o personagem foi criado e agora ninguém sabe o que fazer com ele. Felizmente, a presença de Riker e Troi, bem como a maravilhosa Kestra seguram o episódio com uma força absurda, mesmo que na base do saudosismo. Acredito que se as ideias fossem repensadas, ao invés deste sete episódios poderíamos ter agora quatro ou cinco realmente muito bons. A série ainda tem um potencial enorme, a trama ainda é envolvente. Mesmo assim, cansa não sair muito do lugar na maioria do tempo. Espero que esta temporada não termine sendo apenas um brainstorm num baú de lembranças.

Star Trek: Picard vai ao ar semanalmente no Brasil através do serviço de streaming da Amazon, o Prime Vídeo.

Nota: 4/5. Gostei bastante.

Anteriormente, em Star Trek: Picard…:

STAR TREK:PICARD | Análise crítica do primeiro episódio

STAR TREK: PICARD | Análise Crítica de “Mapas e Lendas”

STAR TREK:PICARD | Análise crítica de “O Fim é o Princípio”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Franqueza Total”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Encrencas em Stardust City”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “A Caixa Impossível”


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Desenvolvedor de sistemas, escritor, jogador de RPG, fanático por jogos de tabuleiro, leitor voraz. Tento salvar o mundo nas horas vagas, mas é difícil por que nunca tenho horas vagas...

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