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Séries

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Fragmentos”

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Picard transformado em Locutus. Memory Alpha.

Na segunda temporada de Jornada nas Estrelas – A Nova Geração, somos finalmente apresentados aos Borgs, uma raça de organismos cibernéticos que assimila outras espécies, ganhando assim sua cultura e conhecimento, melhorando mecânica e eletrônicamente seus defeitos, em troca de uma subserviência coletiva. O capitão Jean-Luc Picard é assimilado no episódio O Melhor de Dois Mundos (The Best of Both Worlds), um episódio duplo que encerra a terceira temporada e fez com que toda uma audiência americana prender o fôlego por todo um verão até a estréia da temporada seguinte, onde a história se conclui com a Enterprise salvando o dia mais uma vez.

A assimilação de Picard ainda seria tema de muitos episódios de A Nova Geração, além de ser uma das alavancas do plot do filme Jornada nas Estrelas – Primeiro Contato (Star Trek: First Contact). Mas é no segundo episódio da quarta temporada em que vemos o drama do capitão em lidar com sua assimilação. Em Família (Family), a Enterprise-D está ancorada na órbita terrestre para manutenção. Aproveitando-se desse fato, Jean-Luc Picard volta para a Terra rever sua família (seu irmão Robert, sua cunhada e seu sobrinho René). Neste mesmo episódio, Worf encontra-se com seus pais adotivos pela primeira vez após ser excomungado pelos klingons em Pecados Paternos (Sins of Father, terceira temporada) e Wesley Crusher descobre uma mensagem deixada pelo seu falecido pai, feita para ele dez dias após seu nascimento.

Três pessoas diferentes em três tragédias pessoais cujos problemas precisam ser enfrentados e os pedaços recolhidos. Família é um episódio memorável. Fragmentos, tenta seguir a mesma linha, mas não tem a mesma sorte…

ATENÇÃO TRIPULAÇÃO: ATIVAR ALERTA DE SPOILERS!

Esta é uma crítica baseada no enredo do episódio, portanto ele tem muitos detalhes da trama que podem estragar a surpresa caso não tenha visto ainda.

Zat Vash e a Advertência. CBS All Access.

Voltamos quatorze anos, direto para o planeta Aia, o Mundo do Luto, no centro de um sistema com oito estrelas. Na superfície, mulheres do Zat Vash se preparam para ter contato com aquilo que pode mudar suas vidas para sempre: a Advertência (The Admonition, no original). Ao redor do campo energético, vemos mulheres conhecidas: Narissa, dra Ramdha e a líder do culto é ninguém menos que a Comodoro Oh, que agora sabemos ser mestiça romulana-vulcana. Elas tocam o campo de energia e acabam tendo vislumbres de destruição, como se a criação dos sintéticos provocasse a destruição do mundo como conhecemos.

O medo de que a criatura possa destruir o criador é chamado de Mito de Frankestein. O tema, por exemplo, é parte das idéias por trás do filme Matrix e Exterminador do Futuro. Issac Asimov, um dos mais célebres escritores de ficção científica conhecido (e um dos meus preferidos), sempre lutou contra esse termo em suas obras. Para ele, os robôs fariam o trabalho chato e pesado dos humanos, que estariam livres para evoluírem e se tornarem pessoas melhores.

O ritual de contato com a Advertência deixa as romulanas insanas e elas começam cometer suicídio de formas bizarras. As imagens são passadas rapidamente, mas um usuário do Reddit conseguiu colocá-las em ordem e elas estão aqui, se quiser vê-las. Narissa, no entanto, parece sobreviver ao processo. Ramdha também, embora sua mente esteja visivelmente danificada. É nesse ponto que descobrimos que Ramdha é tia de Narissa e Narek. Oh avisa sobre a urgência do problema e sugerem começar por Marte, dando a entender que foi o Zat Vash que iniciou o processo do ataque ao estaleiro Utopia Planitia, conforme vimos nos episódios anteriores.

Já no presente, vemos Narissa conversando com sua tia Ramdha, que está inconsciente depois dos eventos do terceiro episódio O Fim é o Princípio. Provavelmente foi a mente de Ramdha que ocasionou a desconexão do cubo conhecido como Artefato, quando os borgs tentaram assimilar sua mente e toparam com as informações da Advertência. Narissa é avisada que os romulanos encontraram Elnor. O renegado luta com eles mas é pego e quase morto. Nesse momento que aparece Sete de Nove para salvar o dia (ela tinha livre acesso ao Cubo? Como ela conseguiu se teleportar lá dentro, com as defesas do local ativadas?).

Narissa e sua tia Ramdha, ainda em coma. CBS All Access.

Voltamos ao espaço, com Picard desembarcando em La Sirena. Rios fica abobalhado ao ver Soji. O almirante ordena que Rios abra um link subespacial seguro e trace um curso para a Base Estelar mais próxima, mas ele faz uma birra sem sentido. Já Raffi chega a apontar uma arma para Soji, tamanha desconfiança. Ela então conta a Picard sobre a teoria da traição de Agnes Juratti e o assassinato de Bruce Maddox. Picard não acredita (Tá perdendo o jeito? Quer que eu chame a conselheira Troi de novo?). O almirante vai até a enfermaria, onde Agnes ainda está desacordada depois de ter aplicado em si mesma um composto para neutralizar um rastreador de viridium. Não é a primeira vez que vemos um rastreador de viridium: Spock usa um rastreador do mesmo tipo para salvar o capitão Kirk de uma prisão klingon em Jornada nas Estrelas VI – A Terra Desconhecida (Star Trek VI: The Undiscovery Country). Picard entra em contato com a Frota Estelar, falando com a almirante Clancy novamente. Ele alega que apesar de ser ignorado e mal tratado, tinha razão. Relutante e ainda agindo desrespeitosamente, Clancy promete enviar um esquadrão.

Raffi mostrando o desenho do sistema ao navegador. CBS All Access.

Raffi procura por Rios na ponte e descobre apenas o Holograma de Navegação, que a informa que o verdadeiro capitão traçou o curso para a Base Estelar e depois trancou-se em seus aposentos. Questionado pelos motivos, o holograma não consegue responder adequadamente, mas reconhece Soji de uma lembrança chamada Jana. Raffi mostra o sistema de oito estrelas e o holograma diz conhecer apenas sistemas com sete estrelas, mesmo assim extremamente raro. Ele cita Nu Scorpio como exemplo. De fato, o sistema de sete estrelas conhecido como Nu Scorpio existe e fica distante por volta de 474 anos-luz da Terra. Você pode conhecer mais sobre o sistema Nu Scorpio na Wikipedia (em inglês). O navegador diz que um sistema de oito estrelas existem apenas em cartas apócrifas de navegação romulanas e provavelmente teria que ser construído. Raffi se dá conta que “Conselho dos Oito“, citado por ela no episódio Encrencas em Stardust City, podem não estar relacionado a oito pessoas e sim a oito sóis.

No Artefato, Narissa conclui que Elnor teve ajuda para fugir. Sete de Nove cogita ativar o cubo e tentar uma assimilação, mesmo com receio de que possa não querer mais liberar os borgs e que eles não queiram ser libertados. Ela ativa a regeneração do Cubo, enquanto Narissa e seu capanga planejam soltar no espaço todos os borgs ainda presos. Na Sirena, Picard e Soji tem uma conversa bastante interessante sobre Data. Picard diz que se identifica com o andróide enquanto incapaz de expressar corretamente suas emoções, afirmando não saber corretamente o que sentia por ele. Soji afirma que Data o amava, reforçando o aspecto ancestral do andróide no seu DNA sintético.

Picard e Soji conversam sobre Data. CBS All Acess.

Raffi tem um encontro com o holograma de engenharia, com um sotaque escocês claramente homenageando o engenheiro Montgomery Scott, engenheiro-chefe da Enterprise na Série Clássica. Eles conversam sobre a possibilidade de alguém construir o sistema com oito sóis e o engenheiro diz que a probabilidade é quase zero, que alguém o faria apenas para chamar atenção. O episódio não menciona, mas fico pensando como é que o planeta consegue resistir a força gravitacional gerada por estes sóis, funcionando cada um com uma intensidade e órbita diferentes. O sistema Nu Scorpio, citado acima, não possui planetas em seu interior.

Rios e o Capitão Alonzo Vandermeer. CBS All Access

Raffi volta para seu aposento e conversa com o holograma de hospitalidade, que informa que Rios utilizou o sistema de autoscan da nave, gerando os hologramas a partir de sua própria personalidade. Mesmo assim, ele apagou algumas informações depois, então eles possuem alguns dados incompletos. Alcoolizado em seus aposentos, Rios saca um baú de lembranças, com coisas de sua época no ibn Majid, incluindo um desenho de uma moça parecida com Soji e uma foto dele com o capitão Alonzo Vandermeer.

Raffi se reune com todos os hologramas da Sirena e começa a juntar as peças que estão fragmentadas e/ou escondidas para descobrir o que aconteceu com Rios. Embora a cena não tenha um peso relevante, a interpretação de Santiago Cabrera é formidável e a edição das imagens é incrível. Aqui ficamos sabendo que o capitão Alonzo Vandermeer se suicidou, mas os hologramas não conseguem descobrir o motivo.

Os vários hologramas do capitão Rios. CBS All Access.

Dra Agnes Juratti acorda na enfermaria e Picard está ao seu lado, encarando-a. Eles conversam sobre ela se entregar e o bloquei mental que lhe foi colocado durante o elo vulcano. Ela está em sofrimento e alega “pensar em suicídio todos os dias”. O que consegue dizer é que suas visões são do passado e que Soji é Seb-Cheneb, a Destruidora.

Rios está nos seus aposentos quando Raffi adentra o quarto e lhe prepara uma xícara de café no sintetizador da mesma forma que ele fez pra ela no episódio Encrencas em Stardust City. Rios explica que o capitão Vandermeer recebeu para um primeiro contato uma delegação de sintéticos, consituida por Flor Bonitasério esse nome? Sério mesmo?) e Jana, uma andróide identica a Soji. Horas depois, o capitão recebe ordens da Frota Estelar para eliminar os dois e o faz com tiros de feiser. Rios pressiona tanto o capitão para saber o motivo da ação que ele se mata. Então Rios esconde todas as provas, dando a entender que o capitão se matou por nada. Mais tarde ele é desligado da Frota com disforia pós-traumática. Não consegui entender, se as ordens partiram da própria Frota Estelar, por que Rios tinha que esconder as provas? E se a própria Frota ordenou isso, ele nem sequer questionou? O motivo dele ter tomado um porre por causa dessa lembrança é tão esquisito que acaba ficando totalmente sem sentido.

Sete de Nove se conecta ao cubo enquanto Narissa mata os ex-borgs. Assim que é criada a coletividade dentro do cubo, a romulana ordena que os borgs em suspensão sejam atirados ao espaço. Em La Sirena, a tripulação se junta à mesa do refeitório e começa a juntar as peças, os fragmentos deste quebra-cabeça. Basicamente A Advertência é um aviso de uma civilização avançada que teve contato com vida sintética que evoliui demais, destruindo-os. O Zat Vash interpretou as mensagens deixadas por eles começou a agir quando o Dr Noonian Soong começou a criar vidas sintéticas, infiltrando-se na Frota Estelar e na Federação, através de Oh. Ao descobrir que a ibn Majid encontrou vida sintética fora do planeta, desejou exterminá-los. Mas para isso precisava descobrir onde o planeta ficava.

Equipe de La Sirena em reunião

Soji sente-se atacada pela reunião e sai com raiva da mesa, separando todos com um campo de força e assumindo o controle da nave e se preparando para levá-los para seu planeta natal. Rios retoma o controle usando uma antiga canção de ninar como chave de segurança. Ele fica revoltado com a menina, mas depois de uma conversa, todos concordam em ir para o planeta de Soji. Mas que caramba foi isso? Sério? Todo o planejamento do capitão, o encontro com o esquadrão da Frota, a prisão da dra Agnes, tudo simplesmente jogado fora por causa de uma birra e uma cara de choro? Totalmente desproposital e sem sentido. Uma perda de força tremenda para a história. O diálogo entre Rios e Picard feito a seguir, sobre o otimismo da Federação e o medo causado pelos romulanos é até saudável, mas não é suficiente pra corrigir isso. O episódio termina com a entrada de outra nave no mesmo conduíte de transdobra que La Sirena.

Fragmentos é o melhor título que este episódio poderia ter uma vez que é sobre isso que ele fala. Raffi conversa com os hologramas de Rios, que são feitos de pedaços dele. As histórias que eles tem, também. Soji e Picard falam sobre Data, ao qual se referem a ele apenas por seus fragmentos mais importantes. Aqui, além de juntarem os cacos emocionais, os personagens juntam as pistas sobre Zat Vash, o ataque dos sintéticos e tudo mais. É só isso que este episódio tem a oferecer. Toda informação importante é concentrada em menos da metade do episódio, enquanto o resto é uma alegoria banal sobre suicídio e emoções reprimidas.

Este é o episódio que mais se fala em suicídio. As mulheres do Zat Vash, a doutora Agnes, o capitão Vandermeer, todos são exemplos de suicídio mediante a uma situação de pressão e medo. Por um momento, acreditei que houvesse um tratamento especial a este tema tão complexo e delicado, mas pelo jeito a morte por suicídio é apresentada de forma tão rasa que me pergunto se havia necessidade de se tocar no assunto desta forma.

Fragmentos termina como um episódio fraco, oscilando muito em qualidade. A série toda, por sinal, alterna com episódios memoráveis e outros bem moderados ou fracos. Ainda assim, sustenta-se com base na memória afetiva dos fãs e na grande capacidade de interpretação dos seus atores. É como uma laranja sem muita polpa, que apesar de doce, se espremida não vai sobrar muito caldo aproveitável. Com a série se aproximando do final, resta saber se o episódio duplo de encerramento pode encerrar essa oscilação e dar um fim digno para esta temporada.

Trívia rápida: Elnor tem em seu cinto uma inscrição romulana que diz sem n’hak kon. Significa “agora é o único momento”. O idioma romulano visto em Picard foi desenvolvido por Trent Perhson, linguista americano, baseado no vulcano e romulanos anteriormente vistos em filmes e episódios da série.

Nota: 2,5. Razoável, quase ruim.

Anteriormente, em Star Trek: Picard…:

STAR TREK:PICARD | Análise crítica do primeiro episódio

STAR TREK: PICARD | Análise Crítica de “Mapas e Lendas”

STAR TREK:PICARD | Análise crítica de “O Fim é o Princípio”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Franqueza Total”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Encrencas em Stardust City”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “A Caixa Impossível”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Nepenthe”


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Desenvolvedor de sistemas, escritor, jogador de RPG, fanático por jogos de tabuleiro, leitor voraz. Tento salvar o mundo nas horas vagas, mas é difícil por que nunca tenho horas vagas...

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