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Críticas

WATCHMEN SÉRIE | Crítica do Neófito (S01E07)

Publicado

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Foto: Divulgação (a fita de vídeo que inspirou Angela Abar a se tornar a Sister Night)

ALERTA DE SPOILER!!!!!!

(Este texto pode, eventualmente, abordar elementos da trama)

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Quando a HBO anunciou que, a cargo do showrunner  Damon Lindelof (Lost),  faria uma série televisiva Watchmen, a partir do universo criado na graphic novel homônima concebida por Alan Moore e Dave Gibbons – particularmente a minha HQ preferida de todo os tempos! – muito se especulou, criando-se uma enorme expectativa em torno do título. E não era para menos: a obra-prima desenvolvida pelo rabugento bruxo britânico é tão superior a quase tudo que já foi feito em termos de HQ, que a simples ideia de mexer naquele complexo universo parecia um sacrilégio!

Foto: Divulgação (Alan Moore, Dave Gibbons e Damon Lindelof)

Fica patente, olhando agora com certo distanciamento, que Before Watchmen, por exemplo, foi um primeiro passo da DC Comics para simplificar a escrita acima da média de Moore, e aproveitar o universo altamente filosófico, crítico, ácido e complexo por ele desenvolvido, numa estratégia para, não muito depois, transformar o mundo de Watchmen em apenas mais uma das “infinitas Terras” da editora, de forma a permitir a interação de Dr. Manhattan e cia. com a Liga da Justiça (na saga Domsday Clock), mesmo que para isso tenha se jogado para escanteio toda a reflexão questionadora sobre o próprio gênero de super-herói e o impacto que a existência de vigilantes e seres sobre humanos de fato teria no mundo real.

Foto: Divulgação (capa da edição nº 1 da graphic novel Watchmen; parte do cartaz oficial da série televisiva Watchmen; algumas capas de Before Watchmen; capa de Doomsday Clock)

O nome de Damon Lindelof era outro agravante, afinal, apesar de não restar dúvida acerca do talento do produtor/roteirista/diretor – que inovou a forma de se fazer televisão com Lost – também é fato que o showrunner criou, com o mesmo Lost, um exemplo de obra que se torna maior do que seu criador (mito de Frankenstein), ao se perceber que ele claramente não soube como dar um fechamento à altura de toda a expectativa que havia criado para sua revolucionária série (algo similar ao que aconteceu com as Irmãs Wachowski e as continuações de Matrix).

(SPOILER) O primeiro episódio de Watchmen foi um alento: repleto de referências e easter eggs da série em quadrinhos, trazia personagens inéditos, carismáticos e repletos de camadas; apresentava uma trama igualmente misteriosa e instigante e ao mesmo tempo socialmente crítica: o tema do racismo pode ser interpretado como a ponta de um enorme iceberg acerca do momento de intolerância e ascensão do autoritarismo que se vive atualmente mundo afora (aliás, nesse sentido, Lindelof foi até além de Moore, pois, comparando a série televisiva à graphic novel, percebe-se que, na HQ, há apenas dois personagens negros de destaque – o menino que lê Contos do Cargueiro Negro na banca de revistas e o psiquiatra designado para cuidar de Rorschach – não contando com nenhum vigilante negro. A série, por sua vez, tem na sua protagonista – Sister Night – uma negra e, em condições normais, considerada imigrante, por vir do Vietnã; além disso, o programa de tv reconta a origem de Hooded Justice, tornando seu alterego um policial negro). A cereja do bolo do episódio de estreia veio com a morte do simpaticíssimo chefe Judd Crawford (Don Johnson, perfeito), que aparentemente seria o Ned Stark da série (algo que é desconstruído ao longo da série).

Os episódios seguintes, por sua vez, foram abrindo janelas e mais janelas sem oferecer pistas conclusivas para todas, o que começou a atemorizar os fãs acerca de uma espécie de “efeito Lost” (ou Game Of Thrones): expectativas enormes para um final frustrante.

A coisa começou a melhorar muito a partir do excelente episódio 5, mantendo o ritmo no excepcional capítulo 6, até chegar a este revelador antepenúltimo 7º episódio.

Se o episódio 5 trazia um claro e bem-vindo desenvolvimento da trama, o 6º foi um desbunde de técnica, interpretação, ousadia e homenagem à HQ de origem (aliás o 5 também foi). Já este 7º capítulo retorna a uma estética mais convencional, no entanto, abre de vez a caixa de Pandora da história concebida por Lidelof, trazendo um final absurdamente impactante e, ao mesmo tempo, perfeitamente coerente com as cenas finais da graphic novel.

Focado novamente em Sister Night (Regina King) e boa participação da Lady Trieu (Hong Chau), o episódio 7 revela (bem aos moldes da HQ) o passado da policial-vigilante, enquanto apresenta os reais planos da Sétima Kavalaria (de arrepiar!) e que Looking Glass (Wade Tillman) não foi morto pelo grupo supremacista branco (vide final do episódio 5).

Foto: Divulgação (sentido horário: Looking Glass, a jovem Faithe Herman interpretando a jovem Angela Abar, o enigmático julgamento de Adrian Veidt e Lady Trieu junto com Sister Night)

O bacana disso tudo é que Lidelof soube reunir, neste pacote, uma verdadeira e respeitosa reverência à HQ (muito maior até do que o filme de 2009, sob a batuta de Jack Snyder), uma história inédita autossustentável (que talvez seja o ponto menos forte) e uma crítica social moderna de enorme alcance.

Os planos da Sétima Kavalaria (que não vou revelar para não estragar a surpresa) representam tudo o que se tem visto atualmente em termos de política: a ascensão de um espírito antigo, como se uma volta ao passado fosse resolver os graves e inéditos problemas do futuro próximo que se avizinha.

Se Lindelof mantiver a enorme coerência que vem mantendo com a HQ, o final da série televisiva chega até mesmo a ser um pouco previsível, mas, ainda assim, sera milhões de vezes superior a muita coisa que a tv aberta ou fechada vem produzindo.

Talvez, o público não iniciado possa tenha problemas para uma total compreensão da série, uma vez que a leitura cuidadosa da HQ torna, evidentemente, a degustação dos capítulos televisivos muito mais suculenta; mas mesmo aqueles que nunca chegaram perto da graphic novel podem ter uma experiência incrível ao se dedicarem a Watchmen.

Ainda falta explicar o destino de Adrian Veidt (certamente o personagem da HQ mais “modificado” e “adaptado” ao seu intérprete, Jeremy Irons), mas quero crer que seu arco ainda se mostre válido para a narrativa como um todo.

Os dois últimos episódios podem estragar tudo, mas, por tudo o que foi desenvolvido até aqui, chega a ser improvável.

O relógio do apocalipse está chegando nos seus minutos finais.

Mal dá para segurar a ansiedade!

Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótimo)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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